È como ela disse a mim, "Estou cansada de casos entre perversos e neuróticos no meu consultório.". O cansaço chega para todos. A respiração se torna mais nervosa e barulhenta, as interjeições de desprezo aparecem com mais frequência e ,de repente, no silêncio, quando se acredita que a paz foi alcançada, quando as esperanças foram renovadas, o incomôdo, tão bem escondido outrora, emerge forte, mas calmo:
-Eu não sei se eu confio mais em você. E eu não quero prendê-lo. Quero você livre para trepar com Geraldos, Josés, Luíses, Leandros.Hélios.
E mais uma vez tudo acabado. Dessa vez, os estereótipos estão mais fortes. Dessa vez, um outro réu: eu. Eu abro as janelas porque a sensação é que meus pulmões estão sem ar. Minhas pernas parecem que flutuam. O dia que um dia, sei que chegaria, chega antes. E eu não o controlo.
-È um momento em que eu acredito que você não quer meu bem. Que você não quer crescer comigo. È um momento que eu não sei se passará algum dia.
Eu não respondo. Diante da verdade, tão clara, o que dizer? Eu apenas confirmo covardamente com movimentando minha cabeça.Eis uma grande dor. Um tipo tímido, que cresce calado, que castiga os músculos, põe mordaça na boca: a impotência.Não há o que fazer. Não consigo deixar de ser perverso; ele tentou deixar de ser neurótico, mas eu não permiti: alimentei o monstro, o provoquei e o acalmei com beijos quando ele estava no limite.
Nas falas, nos olhares.Nunca o fiz esquecer que sou forte, independente e livre.Meu inconsciente é um fenômeno: mais mentiroso que minha consciência de quando me olho no espelho e vejo um ser desprezível, incapaz de demonstrar amor e, consequentemente, de amar. Eu olho para todos, não digo não a um convite para cama e não faço isso pelo meu pênis.Eu sou movido por um vício que vai além do gozo. E tudo que deseja me amar, eu corro para deixá-lo para traz.
Hoje mais um buraco foi criado em mim. Eu, de algum modo, sou um demônio. Eu racionalizo, penso, vejo. Eu percebo tudo: eu vejo onde falhei, onde machuquei. Qual a razão de não mudar? Qual a razão de machucar e matar o que me faz mais forte, mais bonito? Onde quero chegar?
Não há um norte. Eu quero poder admitir minha fraqueza para aprender a andar de mãos dadas. Eu quero entender o porque tento destruí-lo. Eu o amo muito, mas talvez o inveje também - e só essa especulação esmaga meu coração. A beleza, os olhos verdes, o dinheiro.
Existe um jeito estúpido de amar. È o daquele que não ama a si mesmo, para começar.